Ele chegou com os colonizadores e a Monarquia e foi usado na formação das raças nacionais. Reintroduzido oficialmente na década de 1970, transformou o Brasil em referência mundial em qualidade de plantel
Os primeiros cavalos ibéricos foram introduzidos no Brasil pelos colonizadores por volta do ano 1541. Eram mestiços de garranos e poneys galegos trazidos do norte de Portugal e dos Sorraios do Sul.
Depois de um longo período sem registro oficial de entrada de novos animais, a história recomeça a partir de 1808 com a chegada da família Real de Portugal, quando o Príncipe Regente D. João VI trouxe para a Colônia cavalos selecionados na Real Coudelaria de Alter. Em 1821, D. João VI presenteou Gabriel Francisco Junqueira, o barão de Alfenas, com o garanhão Sublime, reprodutor usado juntamente com outros produtos da raça no cruzamento com éguas nativas, originando-se destes cruzamentos a base de várias raças brasileiras,
com destaque para o Mangalarga Marchador e Campolina, que nasceram no sul de Minas Gerais; o Mangalarga, selecionada no Estado de São Paulo; oPantaneiro, selecionado na região pantaneira do Mato Grosso do Sul, e o Nordestino, típico da caatinga do Nordeste. O Crioulo, que predomina nos Estados da região Sul e tem origem sul-americana, também tem raízes nos cavalos ibéricos.
Com a Independência do Brasil, Portugal interrompeu o envio de novos exemplares. Meio século depois da chegada dos cavalos de Alter Real foram feitas tentativas de reintrodução do cavalo ibérico selecionado em Portugal, mas sem sucesso.
Retorno épico, consolidação e referência mundial
Em 1972, Antônio de Toledo Mendes Pereira, o Toni Pereira, tradicional criador de cavalos Árabes na época e um dos mais respeitados nomes da equinocultura nacional, importou da Coudelaria Nacional de Portugal o garanhão Broquel, e quatro éguas, entre elas a reprodutora Dinâmica, que chegou com o potrinho “batizado” de Orjavo. Expostos em mostras agropecuárias, fizeram muito sucesso, atraindo novos interessados.
Em 1974 foi a vez de Ênio Monte importar o garanhão Hafiz, preto, linhagem Veiga, da Coudelaria Ortigão Costa, e a égua Hortênsia, tordilha dos campos de Duarte Oliveira, com a potra ao pé Rapioca, selecionadas por José Monteiro.
O grupo de entusiastas da raça, capitaneados por Toni Pereira, fundou em 1º de dezembro de 1975 a Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Andaluz. Reconhecida pelo Ministério da Agricultura, a entidade instituiu o Stud Book brasileiro, mantendo o registro genealógico das raças Lusitana e Espanhola (conhecidos como Andaluz) e de seus cruzados.
Outro fato marcou o ano de 1975. Portugal vivia o auge da Revolução dos Cravos, com coudelarias e quintas sendo tomadas e os cavalos sacrificados. O patrimônio genético do Puro sangue Lusitano corria risco. Foi nesse momento que José Monteiro, diretor da Coudelaria Nacional, ofereceu aos brasileiros a oportunidade de se adquirir o que havia de melhor no plantel português para que a seleção da raça pudesse ter continuidade no Brasil.
Proposta aceita pelos criadores Toni Pereira, Ênio Monte, Asdrúbal do Nascimento Queiroz, Abel Pinho Maia Sobrinho, João Alfredo de Castilho e José Pinho Maia. Em 1976, tudo o que cabia de cavalos num avião cargueiro fretado pela empresa Entre Rios aportou no Brasil, entre eles os garanhões Iprés, Fenício, Hiparco (Coudelaria Nacional), Herói (ferro Ortigão Costa), as éguas Havana, Ira, Navarra e Garbosa (Coudelaria Ervideira), Kalifa e Marinheira (Coudelaria Infante da Câmara), Java, Malagueta, Opala, Joaninha e Heroína (Coudelaria Duarte Oliveira), e Iaia, Marqueza, Rejusta, Rajada e Hipoteca (Coudelaria Nacional).
Os anos 1980 foram marcados pelo crescimento do plantel e a instituição, em 1981, das exposições próprias.
Em 1991 o Brasil celebrou um Protocolo de Reciprocidade com a APSL – Associação Portuguesa dos Criadores do Puro Sangue Lusitano -, possibilitando que todos os animais registrados no Brasil também sejam registrado no Stud Book português e em todos os países que possuem convênio análogo com Portugal. O intercâmbio possibilitou, ainda, a mudança de nome da entidade para Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano (ABPSL).
Desde a década de 1990, a criação nacional tem sido marcada pelos investimentos em genética e no desenvolvimento de cavalos atletas, o que levou a criação brasileira a se tornar referência mundial em qualidade e funcionalidade, com crescente aumento das exportações para países das Américas e Europa.
Consolidação da funcionalidade
Nos esportes, o cavalo Lusitano tem sido responsável pelo fomento e desenvolvimento de modalidades como o Adestramento (Dressage), a Atrelagem e a Equitação de Trabalho.
De origem européia, a Equitação de Trabalho foi introduzida no Brasil em 2000, e dois anos depois o país conquistou o título mundial individual e o vice por equipe.
Na Atrelagem, o Puro Sangue Lusitano é a raça destaque nos campeonatos brasileiros em todas as categorias: single, parelha e quadra.
É no Adestramento, no entanto, que a raça tem seu maior desempenho: é maioria em número de inscrições e vitórias em competições nacionais e internacionais dentro do país.
Foi o cavalo Lusitano, aliás, que possibilitou ao Brasil competir nos principais eventos esportivos do mundo.
Em Olimpíadas, a raça foi 100% das montarias nos Jogos de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016.
Nos Jogos Equestres Mundiais voltou a ser 100% da equipe em Kentucky/ Estados Unidos em 2010 e na Normandia/França em 2014.
Em Pan-americano foi maioria nos Jogos do Rio em 2007, Guadalajara/México em 2011 e Toronto/Canadá em 2015. No Rio e em Toronto a equipe brasileira faturou a medalha de bronze.
No Sul-americano (Odesur) de 2014, no Chile, também foi maioria no time medalha de ouro, além de ouro individual.
E nas duas finais da Taça do Mundo de Dressage que o Brasil participou, em 2010 na Holanda, e em 2017 nos Estados Unidos, o país foi representado por conjuntos Lusitanos.
Atualmente, o Puro Sangue Lusitano conta com cerca de 200 criadores e proprietários e 12 mil animais registrados e vivos que se distribuem por vários Estados: São Paulo concentra 80% do plantel, mas a raça também marca presença no Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará.